A adolescência é um momento que traz um certo lugar entre: não é nem criança, nem adulto. Isso é vivido muitas vezes por quem está neste momento, como uma sensação de lugar de não pertencimento.
Os interesses da infância vão se desfazendo, aliás vai inclusive comparecendo uma certa vergonha dos restos infantis, sendo julgado pelo próprio jovem como um lugar do qual não se deve mais transitar, nada dali (do infantil) pode aparecer, as suas posições que lhe remetam à sua criança não são mais muito bem vindas.
No entanto, o lugar do adulto não é possível ainda com sua maturidade em construção: sem possibilidades de responder por si completamente, com a dependência financeira que ainda se coloca, com a divisão do lar com seus responsáveis aos quais ainda precisa dar muitas respostas.
Ao mesmo tempo, uma convocação se coloca: qual seria então o seu novo lugar? Quem seria sua nova rede de contato? O grupo da infância permanece? Suas escolhas com as amizades podem ganhar grandes reviravoltas em função dos novos gostos, do seu novo estilo e interesses... Aparecem outros novos jovens que ganham a sua admiração, o seu olhar, a sua vontade de se aproximar e conviver.
Não é a toa que nesta fase, as identificações são importantes, trazem aconchedo e colo para este vão, essa fissura que o entre pode ser sentido por aquele sujeito.
Sabemos que estar se sentindo em um não lugar traz impactos para o nosso psiquismo e tem efeitos. Tem um tempo de solidão e uma caminhada que se faz ao longo desse processo, desta travessia.
Mas é entre uma experiência e outra, entre uma pessoa nova que adentra a sua vida e outra que eles se despedem, entre o que os mais velhos querem para eles e o que eles de fato escolhem, é nesta brecha que o leque das infinitas possibilidades e criações podem se fazer, mesmo que em um ponto de solidão, suas grandes criações e amarrações se produzem ali no que ainda não tem nome.
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